domingo, 27 de abril de 2008

Sempre a Razão...

Sempre a Razão vencida foi de Amor;
Mas, porque assim o pedia o coração,
Quis Amor ser vencido da Razão.
Ora que caso pode haver maior!


Novo modo de morte e nova dor!
Estranheza de grande admiração,
Que perde suas forças a afeição,


Por que não perca a pena o seu rigor.
Pois nunca houve fraqueza no querer,
Mas antes muito mais se esforça assim


Um contrário com outro por vencer.
Mas a Razão, que a luta vence, enfim,
Não creio que é Razão; mas há-de ser
Inclinação que eu tenho contra mim.



Autoria: LUÍS DE CAMÕES

terça-feira, 22 de abril de 2008

Focinheiras

Começar uma carta por vezes parece bem mais complicado do que realmente é. Queria lhe escrever para dizer o que ontem se passou comigo, uma bobagem cotidiana, dirá alguém, não fossem as tragédias passadas, talvez tivesse passado em branco.

Caminhava eu em ruas tranqüilas (o feriado assim permite) quando deparei-me com uma jovem sendo conduzida por seu Pitt Bull (imagine agora a trilha sonora de Hitchcock, a cena do chuveiro). Putz, o "dócil" cão teve o poder mágico de tirar todos os transeuntes da calçada. Que bela cena: A dona da rua com seu "amistoso" guarda-costas. Situação memorável.

Imediatamente procurei o primeiro telefone público e liguei para 190 (Polícia), o atendimento foi rápido, do outro lado da linha uma voz feminina, gentilmente pergunta no que pode ser útil (gostei disso).

- Por favor, estamos na rua X e uma jovem transita com seu cão da raça Pitt Bull, o mesmo está praticamente sem controle, apenas seguro em uma frágil coleira, ele está sem focinheira, e... (Interrompida, quando tentava completar o relato)

- Senhora, o cão está na coleira, a focinheira não é obrigatória. Não podemos interferir, ao menos que ele avançe em alguém. (A voz explicou docemente)

- Como assim??!!! O cão está descontrolado, mal consegue ser conduzido, num ataque seria impossível contê-lo, e chamar a polícia em tempo hábil... por favor, por favor... (Minha mente gritava essas palavras, mas eu não disse nada). - Obrigada. Apenas agradeci, desapontada.

Algum dia desses me pegarei comprando uma focinheira, visto que os que devem usar, não são obrigados a isso. Além das grades da minha janela, dos carros blindados, dos alarmes nas casas, em breve, também usarei focinheiras.